Uma Conversa Sobre a Tradicional Arte da Dança do Ventre

dança do ventre

Em comemoração ao Dia Internacional da Dança convidamos Patricia Morgado, dançarina do ventre há 20 anos, para uma conversa despretensiosa sobre essa arte tão tradicional. Aqui ela conta detalhes incríveis sobre o surgimento, alguns movimentos e significados daquela que também é conhecida como Dança Oriental ou Dança Árabe. Acompanhe.

Origens da Dança do Ventre

A origem da Dança do Ventre é um tópico polêmico: existem muitas suposições e nenhuma certeza. Uma das hipóteses mais aceitas é que tenha se originado no Antigo Egito. Ainda que não possamos “bater o martelo” sobre sua origem, sua história é um objeto de estudo fascinante.

A Dança do Ventre é majoritariamente dançada por mulheres mas existem bailarinos homens. Ela pode ser praticada por pessoas de todas as idades e não existe um tipo físico específico. Mesmo que ainda, como em todos os ambientes de dança, exista a pressão estética por corpos magros. Especialmente se a pessoa deseja se profissionalizar.

Pode se dançar coreografias em grupos, trios, duplas ou solos. Dança-se em festivais de dança, festas, apresentações de escolas de dança, competições, restaurantes, eventos e shows.

Movimentos da Dança do Ventre

O que caracteriza uma dança como Dança do Ventre é a ênfase nos movimentos realizados pela região pélvica, quadris e abdômen. Os movimentos podem ser enérgicos ou suaves, percussivos ou ondulatórios, tremidos (shimmies) e circulares.

Os pés e as pernas proporcionam a base que auxilia a execução dos movimentos. Isso permite que a bailarina explore diferentes espaços por onde dança através de leves caminhadas, giros, deslocamentos e diferenças na altura (meia ponta ou pé no chão). Entre outras possibilidades.

Os braços e as mãos criam lindas molduras que adornam o dançar. Cabelos e movimentos de cabeça são frequentemente incorporados à coreografia.

Dança do Ventre e os Trajes Usados

O figurino da Dança do Ventre é quase em si mesmo um protagonista. Ele confere muita beleza aos movimentos apresentados pela bailarina.

Durante as aulas é comum que as alunas usem roupas de ginástica, como leggings e tops acompanhados de um xale de quadril (que pode ser de moedas, bordados ou com franjas).

Patricia Morgado, nossa autora convidada. Foto: Marcos Gouveia

Os xales de quadril ajudam a destacar a movimento da região. Sendo também um elemento que confere um caráter identitário, como se comunicasse ao mundo: aqui se faz Dança do Ventre.

Nas apresentações o figurino é normalmente composto de um top ou sutiã, um cinturão no quadril e uma saia longa que pode ser rodada ou estilo “cauda de sereia”.

Em geral o top e o cinturão são ricamente bordados com paetês, pedrarias e strass. Também é possível usar vestidos justos que destacam as curvas. Ou “bodies”, um maiô com abertura de botões na parte inferior usados no lugar do top, acompanhando a saia.

Devido ao alto grau de complexidade de sua confecção são em geral peças de custo elevado. São utilizados muitos acessórios, especialmente brincos grandes e brilhantes, pulseiras, colares e anéis.

A maquiagem tem os olhos bem marcados e esfumados e o batom costuma ser de cor forte. Definitivamente a estética da Dança do Ventre não é minimalista.

Uma questão que às vezes é fonte de insegurança é o ato de dançar com a barriga de fora. Poucas são as bailarinas não profissionais que possuem a barriga “chapada” ou “ideal”, conforme ditam os padrões de beleza atuais.

Por esta razão muitas mulheres optam por usar algo que chamamos de “barrigueira” que é acoplada ao top e cinturão e é normalmente confeccionada em tecido transparente (da cor da pele ou do traje).

Eu sou uma bailarina gorda que não utiliza barrigueira. Explico: os trajes de Dança do Ventre, apesar de belíssimos, não são exatamente confortáveis. Para “sustentar o look” as bailarinas usam muitos alfinetes de segurança por dentro da roupa para garantir que nada saia do lugar.

Neste sentido entendo a barrigueira como algo que restringiria ainda mais os meus movimentos e opto por não usar. Mas entendo que para muitas mulheres isso seja essencial.

Elementos Cênicos

É muito comum na Dança do Ventre a utilização de elementos cênicos. São véus, espadas, punhais, velas em taças de vidro, candelabros, bengalas , bastões, pandeiros e snujs (pequenos pratinhos de metal tocados pela bailarina com os dedos), jarros e flores.

A opção por cada um destes elementos vai depender da proposta a ser apresentada pela bailarina ou grupo.

Com Que Música?

Tradicionalmente dança-se ao som de músicas orientais, especialmente músicas árabes. Dentro deste universo encontramos músicas clássicas, modernas, folclóricas e solos percussivos.

Foto: André Luiz

Solos de Derbak (um tambor) e o Taksim, por exemplo, se juntam apenas ao som de instrumento melódico como o violino, acordeom, flauta, entre outros.

O universo da música árabe é de uma riqueza instigante. Os ritmos contagiantes, os estilos vocais, os timbres, os instrumentos, a natureza ora percussiva ora melódica são muito particulares.

E oferecem aos ouvidos ocidentais a oportunidade de compreender a música de maneiras diferentes das que estamos acostumados.

Também é possível fazer dança do ventre com músicas ocidentais, o que é um encontro de linguagens muito enriquecedor.

Aliás apropriar-se da vocabulário corporal da Dança do Ventre associando-a a estilos musicais diversos é um exercício muito estimulante. Convencionou-se chamar estes encontros de “fusão”, sendo esta uma categoria a parte na Dança do Ventre.

Benefícios da Dança Árabe

Gostaria de me despedir dizendo que o mundo da Dança do Ventre é tão fascinante quanto complexo. Ela desenvolve a consciência corporal e permite que possamos explorar nossas potencialidades.

O contato com uma cultura diferente da nossa amplia nossos horizontes e nos torna mais sensíveis. Pessoalmente, a Dança do Ventre me ajuda a descobrir caminhos, a fazer amizades, a me apropriar do meu corpo e a ser uma pessoa mais feliz e confiante.

Para nossa sorte o Brasil tem excelentes professores de Dança do Ventre. Aqui você encontra uma lista com alguns dos principais profissionais que ensinam a dança do ventre no Brasil.

Autora: Patricia Morgado, cantora e musicista, bailarina de Dança do Ventre e Fusões, Pedagoga e Mestre em Educação.
https://www.instagram.com/patricialmorgado/

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