Precisamos falar sobre a tendência do rewilding, ou jardim selvagem: o movimento se tornou fortíssimo e está colecionando cada vez mais adeptos planeta afora. Sua prática promove a restauração da vegetação típica da região, contribuindo para o ecossitema local e fortalecendo biomas inteiros. Saiba mais sobre o assunto e aprenda como tomar essa direção.

A exemplo do jardim amigável, o rewilding é mais uma forma de tornar nossos espaços abertos ainda mais sustentáveis.

Um pouco mais sobre a ideia do jardim selvagem

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Foto: domaine-chaumont.fr

Tudo começou com o naturalista britânico Chris Baines em meados dos anos 80. Como apresentador de um programa de TV, sua defesa por deixar que grandes áreas simplesmente voltassem a ser selvagens como antes da ação do homem ganhou bastante popularidade.

Mais recentemente, com a urgência de uma abordagem verdadeiramente sustentável em todas as áreas da vida civilizada, os Estados Unidos retomaram essa ideia, que rapidamente foi difundida também pelos países europeus.

Como ações de sustentabilidade devem ser realizadas por todas as pessoas e não apenas por indústrias, propriedades particulares, tanto de pequenas quanto de grandes extensões, passaram a aderir ao movimento. Nasceu aí o jardim selvagem, contribuindo com uma visão revolucionária sobre paisagismo.

Ou seja: quanto mais gente estimular o aumento da biodiversidade local, melhor. Tendemos a trabalhar por jardins arrumadinhos, bem podados, com grama aparada; mas com uma pequena mudança de mentalidade é possível alcançar resultados muito benéficos para o meio ambiente.

Uma palavrinha sobre insetos e pequenos animais

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Foto: Canal Rural

Um jardim selvagem vai, sim, atrair mais insetos, aves e pequenos animais, tais como esquilos e miquinhos. A princípio isso pode parecer indesejável mas na verdade, para o próprio solo, é uma das melhores notícias: é sinal de alívio.

Esses bichinhos são essenciais para que o bioma tenha mais chances de se desenvolver, o que eventualmente vai levar a um equilíbrio espontâneo que dependerá cada vez menos da intervenção humana.

Contudo se existe alguma espécie realmente danosa para o seu jardim ou para os próprios humanos, não hesite em fazer o controle. No entanto de maneira sustentável, a partir de receitas caseiras, e localizada, de modo a atingir apenas a espécie.

Se o animal for um mamífero, como o gambá ou a cuíca, jamais o mate. Se a população deles aumentar muito, aqui você encontra dicas para espantá-los.

Pare de remover ervas daninhas

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Foto: Jolivi

No rewilding as ervas daninhas só devem ser retiradas se estiverem parasitando e matando outro vegetal. Na maioria das vezes são espécies nativas que possuem beleza própria e o direito à vida em seus próprios termos.

Então resista à tentação de arrancá-las fora. Aliás suas raízes funcionam para oxigenar a terra e servem de berçário para lagartinhas que se tornarão borboletas.

Plantas tipo cardos, com um tipo de espinho, muitas vezes são identificadas como destruidoras de lavouras. Mas é fundamental saber se é o caso da espécie que você encontrou no jardim: muitas são inofensivas e dão belas flores, atraindo abelhas.

Também conhecido como dente-de-leão, o taráxaco (Taraxacum) não apenas é medicinal como serve de lar para dezenas de insetinhos ameaçados de extinção.

Jardim selvagem: deixe a grama crescer mais

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Foto: La Maison D’Ulysse

Passe a aparar a grama no dobro do tempo que costuma fazê-lo. Ou seja, se você passa o cortador semanalmente faça-o quinzenalmente. É uma forma incrível de iniciar a prática do rewilding. Deixe estar.

Gramados costumam ser um dos aspectos menos sustentáveis de um jardim, uma vez que consomem muita energia para serem aparados e água demais para continuarem verdejantes.

Se for muito radical para você, comece deixando crescer apenas uma área do quintal. É, aliás, uma dica de paisagismo para a criação de novos cenários no jardim. Sem contar que, mais longa, a grama lida melhor com o verão e com o inverno.

Plante um pequeno prado para seu projeto de rewilding

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Foto: Panthermedia

Se você ainda não se convenceu sobre deixar sua grama crescer, propomos uma alternativa: criar um pequeno prado na parte mais ensolarada do jardim.

Faça isso plantando ou, ainda melhor, semeando espécies de flores nativas do bioma no qual sua propriedade está situada. Muitas curtem solos menos ricos em nutrientes; se for o caso das que você escolheu, retire a camada mais superficial da terra antes do cultivo.

Essas flores do campo costumam produzir mais néctar do que tipos ornamentais. Também podem ser ótimas para plantar em canteiros e cantos de jardins.

Introduza um espelho d’água

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Foto: Midwest Home

Se a ideia é fortaceler o bioma local, é importante incluir um pequeno lago para matar a sede dos pássaros e estimular o surgimentos de anfíbios como sapos. Quanto mais recursos hídricos você oferecer mais sucesso terá o projeto.

Caso um laguinho pareça ambicioso demais para você, existe a alternativa das fontes de jardim, que já vem prontas ou que são fáceis de fazer você mesmo.

Faça uso do mulch no seu jardim selvagem

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Foto: Good Housekeeping

O mulching, ou técnica onde se usa o mulch na jardinagem, é cheio de vantagens.

Sendo uma cobertura seca natural, ele consegue manter a temperatura do solo mais constante, o que é ótimo para o inverno. O mesmo vale para a umidade do solo, que é mais problemática quando a terra é arenosa demais.

Ele também controla ervas daninhas, pois dificulta seu enraizamento. Então se você tem medo de perder o controle sobre essas plantinhas, use um pouco de mulch num determinado local do gramado.

Como é feito de folhas secas, o mulch contribui para a fertilidade do solo. Junto com adubos orgânicos como o bokashi, se encaixa perfeitamente ao rewilding.

Reduza a área cimentada

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Foto: Gardenista

Muitos de nós gostam de pavimentar a área externa com cimento – e isso não é tão boa ideia quanto pode parecer. Sem o solo para absorver a água da chuva, por exemplo, o piso pode provocar pequenas enchentes no local. Ou levar a água a escoar em outro lugar, alagando o terreno vizinho.

Um exemplo disto são os pátios frontais das casas: a terra é coberta com revestimentos impermeáveis para dar espaço para a chegada do carro da família e seu estacionamento. Contudo é perfeitamente possível trilhar um caminho de pedras naturais apenas para os pneus, deixando o restante livre para o gramado, por exemplo.

Mais dicas para criar seu jardim selvagem

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Foto: Houzz
  • Comece seu rewilding introduzindo duas ou três espécies locais. Não elimine as outras que já fazem parte do seu jardim;
  • Aposte em trepadeiras para forrar cercas, muros e a fachada da própria casa. Elas acolhem muitas espécies de insetos benéficos e aumentam a área verde do jardim;
  • Mantenha uma pilha de troncos mortos num canto do terreno. Eles também funcionam como ambiente de abrigo para insetos. Se você utiliza lenha, acomode-a no jardim;
  • Pense duas vezes antes de derrubar uma árvore morta. Ela abriga pequenos animais maravilhosos para se ter por perto, como pássaros e esquilos;
  • Jogue fora os pesticidas artificiais. Eles podem acabar eliminando os insetos do bem. Pássaros, sapos, lagartixas, aranhas e joaninhas são animais que se alimentam de pragas naturais, equilibrando a presença das mesmas;
  • Cultive diferentes espécies de flores e plantas, não apenas uma. É uma maneira de aumentar a diversidade de seres vivos no seu território e turbinar a transição de um jardim tradicional para um selvagem;
  • Seja tolerante durante o rewilding. Trata-se de um processo que leva seu próprio tempo.