O yakisugi, ou shou sugi ban, é uma técnica japonesa que se utiliza de fogo e resulta numa madeira carbonizada altamente decorativa. Originalmente criado para preservar o material, aumentando sua vida útil, o yakisugi não só é esteticamente belo como também oferece vantagens para quem está construindo ou reformando. Conheça mais detalhes sobre o material que caiu nas graças de arquitetos e designers do mundo inteiro.

Origens do shou sugi ban

“Shou sugi ban” (ou yakisugi, como é mais conhecido no Japão) significa “cedro queimado”, ou “cipreste queimado”. Trata-se de uma engenhosa técnica criada no século XVII que produz uma intrigante textura que destaca os veios naturais da madeira.

Embora o cipreste seja considerada a árvore mais especial, especificamente o do tipo hinoki, o pinheiro, o carvalho, o larício e outras espécies sejam abundantes no Japão, o yakisugi é feito apenas a partir do cipreste sugi. “Yaki” significa “aquecer com fogo”, e “sugi” é cipreste.

Diz-se que o processo é capaz de produzir placas que chegam a durar de 80 a 100 anos sem qualquer tipo de manutenção – mesmo sem aplicação de óleo.

Como é o processo yakisugi

como fazer yakisugi
Foto: Masterclass

Pode parecer contraintuitivo; contudo quando realizado sob condições bastante específicas, o ato de queimar a madeira poderá fortalecê-la ao invés de danificar sua estrutura. Isso inclui a seleção de árvores de qualidade, seu corte no formato de tábuas, secagem ao ar livre sob o sol, a queima superficial da peça, escovação e selagem com óleo.

Todo esse processo pode acontecer pelas mãos de um artesão especializado ou usando automação mecânica.

O carvão originado da queima precisa ter 3mm de espessura. Quando isso ocorre o fogo é apagado imediatamente. Após o resfriamento ao ar livre, as tábuas são escovadas para se livrarem da fuligem. Ficam com aspecto de pele de crocodilo e recebem óleo (ou não).

A fuligem, neste caso, se torna mais macia e, se novamente escovado, o tapume se torna mais liso. E assim por diante.

Todos os três tipos de yakisugi são distintamente bonitos, mas deve-se notar que quanto mais fuligem e carvão são removidos, menos proteção climática e longevidade a madeira terá.

O tratamento térmico da madeira tem sido comum em todo o mundo em várias aplicações há muitos séculos. O yakisugi japonês é apenas uma das muitas variações e possui parâmetros e aplicações de fabricação muito específicos. Madeiras muito grandes não são consideradas yakisugi. Apenas possuem aparência similar. Os tratamentos nas superfícies de móveis ou objetos de decoração são bonitos, mas também não são considerados yakisugi.

Yakisugi é um produto muito específico ao uso do cipreste japonês (Chamaecyparis obtusa) em tábuas serradas lisas ou serrilhadas. Essas tábuas são usadas para tapume (vertical ou horizontal), intradorso, decks/telhas expostas, paredes e tetos (internos ou externos). Se não é isso, também não é considerado yakisugi.

O yakisugi no design contemporâneo

yakisugi
Foto: Modu Studio LLC

A madeira yakisugi tem sido celebrada por arquitetos e designers nos últimos anos. Afinal além de sustentável – seu processo de preservação é orgânico mesmo quando é mecanizado – funciona maravilhosamente como revestimento de casas e como matéria prima para móveis e objetos.

Seu tom cinza escuro e seus veios únicos é uma verdadeira preciosidade para a arquitetura moderna. Confere uma presença dramática que redefine o próprio conceito do minimalismo, tão caro aos japoneses.

A tendência é tão expressiva que até mesmo o designer holandês Maarten Baas se tornou conhecido por sua série Smoke (“fumaça” em inglês) para a marca de luxo Moooi – sem contar com sua colaboração com o colega conterrâneo Piet Hein Eek para a criação do papel de parede para a NLXL que incorpora o conceito.

Usos do shou sugi ban

  • Revestimento externo (fachadas) e interno (paredes, teto)
  • Cercas
  • Decks
  • Portas
  • Janelas
  • Móveis para áreas externas e para interiores, incluindo paineis e armários
  • Peças de design tais como lustres e bijuterias

Vantagens da madeira yakisugi

shou sugi ban
Foto: Blog Unusial
  • Baixíssima ou nenhuma necessidade de manutenção
  • É possível customizar a madeira deixando-a desenvolver um tipo de pátina própria
  • Também é possível mantê-la sempre lubrificada com óleo para manter suas texturas originais intactas
  • À prova de intempéries, incluindo à prova d’água
  • À prova de mofo e infestação de insetos (cupins, lesmas, etc)
  • Retarda o avanço do fogo em caso de incêndios
  • As peças são estáveis, difíceis de empenar
  • Não exige o uso de químicos
  • Possui uma superfície com textura única que enriquece o estilo minimalista de decoração

Pontos negativos

A madeira que sofreu o processo shou sugi ban ainda não é tão facilmente encontrada no Brasil. Seu processo é complexo e demanda não apenas profissionais especializados como também depende de madeira de altíssima qualidade.

Portanto além de mais difícil de encontrar também ainda tende a ser cara.

Mesmo sendo produzida por meio de um processo sustentável, a queima produzida ainda libera gases que podem ser nocivos, sem contar com a fuligem. Os artesão também precisam estar muito bem equipados para usar a tocha acesa em segurança; logo é proibitivo para quem quer se arriscar a realizar o processo por si mesmo.