Com a quarentena, o ensino à distância se tornou a realidade provisória de milhões de alunos brasileiros. Como no país essa modalidade não é permitida do primeiro ao nono ano do Fundamental, muitas famílias estão enfrentando desafios na hora de organizar a vida escolar dos filhos sem aula presencial. Conheça os obstáculos mais comuns e algumas dicas para tentar contorná-los durante o isolamento.

Por Que o Ensino à Distância Durante o Isolamento?

As crianças estavam em pleno início do ano letivo quando a quarentena, motivada pela pandemia da Covid-19, começou.

Por conta do isolamento, extremamente necessário para evitar alta contaminação num curto espaço de tempo, os alunos foram mandados para casa por tempo indeterminado.

eadNenhuma das partes estava preparada para lidar com a interrupção do aprendizado presencial: nem escolas, nem pais, nem alunos.

Com razão, várias famílias com filhos em instituições particulares exigem que o ensino não seja interrompido – afinal, as mensalidades continuam sendo pagas.

Mas a maior preocupação é a pausa no aprendizado. E tudo o que vem junto na rotina dos alunos, como a muito importante socialização.

Resultado: as escolas, tanto públicas como privadas, começaram a se organizar do zero para continuar transmitindo conteúdo aos alunos, mesmo que à distância.

Ainda assim, com a falta de expertise no assunto, tanto dos educadores quando das próprias famílias, alguns desafios tem se apresentado com enorme frequência em muitos lares.

Mesmo com os alunos nota 10.

Desafios do EaD Durante o Isolamento

Os obstáculos começam na própria escola. Todas foram pegas desprevenidas e levaram semanas para se organizar minimamente. Professores e coordenadores pedagógicos trabalham continuamente para fornecer os conteúdos pela internet.

Então, variando de escola para escola, a matéria começou a ser transmitida. Cada uma de acordo com suas possibilidades. Envio de tarefas que seriam feitas em sala, indicação de páginas de livros, até as videoaulas ao vivo.

Para alunos da rede pública, muitos sem acesso a computadores ou internet, os desafios se apresentaram mais rápido. O Ministério da Educação ainda estuda formas de contorná-los para que todos tenham a mesma possibilidade de acessar os conteúdos.

Mesmo assim, com todas as condições, ainda existem contratempos para várias famílias. Afinal, não é assim tão simples reproduzir o ambiente escolar pela web. A experiência do ensino em casa é totalmente diferente.

Como Pais e Filhos Lidam com o Homeschooling

Os pais também não são professores. Nem todos conseguem apoiar os filhos no aprendizado com tranquilidade. Quem continua trabalhando em home office, então, tem ainda menos tempo para se dedicar a isso.

eadOs educadores estão trabalhando incessantemente para facilitar ao máximo o aprendizado em casa. Mas ainda existem muitas lacunas. Cada família tem suas particularidades – são microculturas domésticas – e isso não há como nivelar.

O assunto é tabu social. Muitos pais simplesmente não comentam sobre essas dificuldades do ensino à distância. Outros, no entanto, expressam honestamente suas opiniões e experiências.

Para este artigo entrevistei duas mães (uma com uma filha de 10 anos, outra com uma menina de 9 e um menino de 7) e um pai (três meninos, 17, 14, 10). Embora todos tenham corajosamente permitido a menção de seus nomes, optei por não revelá-los.

“Estou menos preocupado com o homeschooling do que com a saúde mental das crianças e adolescentes”, conta o pai. Um de seus meninos está se adequando perfeitamente ao esquema; para o mais novo, que precisa de mais atividade corporal e social, está sendo mais difícil.

Ou seja, em casa com irmãos, os padrões podem variar.

“Eu não sei qual vai ser o resultado educacional disso”, diz ele. “Talvez, eu temo, e acho, que eles terão mais três meses de aula [presencial], no final do ano, se tudo correr bem. Ou talvez não até. Então eu não estou muito angustiado com isso, não estou muito preocupado com a questão do conteúdo. Estou mais preocupado com a questão comportamental deles e como vai ser o mundo deles daqui pra frente”.

A mãe da menina de 10 anos comenta: “Eu acho que é bom, importante, pra criança não perder o ritmo (…) acho importante pra ter uma rotina, pra que eles encontrem os amigos mesmo que virtualmente, mas é um desafio para todo mundo”.

Como já dito, cada família é uma cultura. E ela continua dizendo que imprime os deveres enviados, para a filha continuar escrevendo à mão, mas algumas crianças digitam diretamente no computador.

“Ainda falta muito para melhorar, mas não tem muito jeito (…) É o que tem, é o que dá”.

Quando a Família Não Concorda com o EaD

A disposição da maior parte das crianças para os compromissos escolares à distância é menor.

Não costumamos pensar dentro da cabecinha delas, mas o que com frequência acontece é que elas também estão confusas, presas em casa, absorvendo a tensão de uma pandemia e da mudança radical da rotina da casa.

eadFamílias que optam pelo ensino Construstivista podem ser os menos satisfeitos com a emissão sistemática de conteúdo.

“Desde o início achei que era um caminho oferecido pela escola sobre como a educação deveria se posicionar nesse momento de pandemia”, disse a mãe da menina de 9 e o menino de 7.

Conta também que a princípio tentou dialogar com a escola, com as diretoras, com a psicopedagoga, a coordenadora, e começou a perceber que, para a instituição, a continuidade era necessária até para que elas pudessem continuar recebendo salários, e a escola estar lá quando a pandemia passasse.

Segundo sua compreensão, a escola não estava de acordo com a ideia da família sobre educação. A família decidiu continuar a pagar as mensalidades enquanto pudesse. Mas já estão procurando outra instituição que esteja de acordo com a filosofia primeira do Construstivismo.

“A gente assumiu aqui em casa que não faríamos o conteúdo enviado. Todos os dias a gente pergunta pros nossos filhos se querem fazer a aula online e todos os dias eles dizem que não.”

Essa mãe revela que diariamente os filhos se envolvem nas tarefas domésticas e na interação próxima com os pais – e eles aprendem muito. “Ensinamos a eles o que nós temos capacidade de ensinar”.

O casal sempre questionou suas próprias capacidades de serem responsáveis pela educação das crianças, do conteúdo que vem da escola. E entraram num acordo: o pai capitanearia a demanda escolar à distância.

No entanto eventualmente ele disse: “É impossível fazer esse conteúdo com duas crianças de idades diferentes, de classes diferentes, online, ao vivo e ao mesmo tempo”.

O Que Fazer

Insisto em dizer: cada família é uma cultura.

Não está errado descontinuar a educação à distância, se o seu posicionamento como família achar adequado.

Quem está insistindo, o pai dá a dica: “Eu e minha mulher trabalhamos em casa e na hora das aulas online nosso filho menor se senta à mesma mesa”.

Isso encoraja a criança. Estimula. Ela se sente parte de alguma coisa. Mesmo os alunos nota 10.

As escolas também devem disponibilizar seus escpecialistas em Educação para orientar os pais.

Pessoalmente? Trabalho em casa mas arranjo um tempinho para passar algum conteúdo com a minha de 9 anos. Mas não como a escola manda. Temos conversas intensas sobre o que se apresenta, e a faço pesquisar online. E está funcionando.

Sim, ela também não se empolga com as aulas.

Tudo é experimental nessa hora. Ninguém sabe o que vai ser da Educação a partir de agora. Quiçá do mundo.

Não julguemos uns aos outros. Independente de tudo, essa geração está no mesmo barco.